terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Geni.

Praticamente todos falam mal dela. Crocodilos andando no meio das ruas, pessoas te atacando do nada, pentagramas de sangue escorrendo pelas paredes, descontrole intestinal e insanidade permanente. Isso seria o minimo. Um amigo que quando conheci era quase membro de algum grupo anti drogas e meses depois estava internado por ter quebrado cada canto do apartamanto da sua mae, corrido pelado na parte mais movimentada da cidade e perdido completamente o contato com a realidade. Nao que a realidade basica seja algo necessariamente bom. Trombeta. Considerava seus efeitos sujos e imperfeitos. Coisa de hippie burro, logo, desnecessaria. Praticamente ja experimentei todas as drogas principais. As portas da minha percepçao nao foram simplesmente abertas elas foram estupradas e agora me sinto bem mais seguro para entrar e sair de pesadelos. O garoto selvagem chegou com quatro flores e foi embora. Tirando a media do que pesquisei, tres flores seriam o provavel suficiente para uma brisa intensa sem no entanto ter que parar no hospital. Sou um viajante e nao um masoquista. Estava com Marroquino e De Souza no apoio. Em caso de erro tenha sempre amigos por perto. Ter experiencia nao faz de voce infalivel. Flores picadas e fervendo ate o amarelo. Cheiro de alface. Gosto de alface. Bebi metade e pedi para sairmos da cidade, para partirmos pra praia. Regra importante sobre uso de drogas: use sempre num local em que voce podera explanar. Se controlar por causa de estranhos ou policia quebra metade do prazer da viagem. Estamos no onibus e sei que algo mudou. Pergunto pro Marroquino: midriase?? Hahaha. Siimm! O Sonhar estava chegando. Abro a mochila com dificuldade(minha coordenaçao nao estava nada boa) e tomo o resto. Queria ter certeza que bateria mas levava carvao ativado caso tivesse me excedido. O onibus para. Chegamos e quando me levanto minhas pernas nao fazem questao de colaborar. Pesadas e em intervalos se desligavam completamente. Coisa bem rapida mas o suficiente para me dar a impressao de que iria cair. As luzes brilhavam mais e la estava eu novamente atravessando o espelho. Sempre uma terra nova. Sede. Muita sede. O caminho do ponto de onibus ate a praia nao era longo mas me pareceu infinito. Sento na calçada e vejo latas de lixo sofrendo distorçao, ficando com formas mais humanas. Nao so as latas de lixo mas qualquer objeto novo. Carrego na força de vontade e volto a caminhar. O vento era delicioso. A rua reta estava ficando torta mas nao era desagradavel. Deu um tesao forte na boca, uma fome de chupar boceta, de lamber coxa e cu. Nada genital, unicamente coisa da boca em colaboraçao com a lingua. Piso na areia da praia e é noite. Vou mais pra frente sem estar nada perto da agua. Sento e naquele momento me encaixo no cenario como a ultima peça do quebra cabeça, fico relaxado e imovel no escuro. Enquanto com maconha eu absorvo uma parte de cada componente local com a trombeta eu era parte de local mas uma parte perfeitamente definida e unica. Marroquino pergunta se esta tudo bem e respondo que estou otimo. Ele se afasta e nem percebo. De Souza tambem pegou outro caminho. Sabiam que eu nao teria problemas. Poderia ter ficado na mesma posiçao por horas, dias ou o resto da minha vida. Um prazer frio e calmo na imobilidade e contemplaçao. Alguem se aproxima. É Marroquino virando uma mancha tremula, um borrao dinamico se expandindo e se contraindo no ar.

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