domingo, 18 de agosto de 2013
Queda Livre.
Como deveria ser. Acordo 7:25, preparo minha refeiçao e apronto as coisas na mochila. Entro na internet, passo um tempo e chego no atelier do Azeredo antes das 10hs. Esperamos por Marroquino que se atrasa mais de 1h. Encheu o estomago de leite e alcool na noite anterior, acordou tarde e passando mal. Garoto esperto. Ele chega com o carro e partimos pra comprar mantimentos e a maconha dele. Dois dias antes frisei com Azeredo: 'Sem frescuras! Se vai sair comigo prum lance desses nao vou querer saber de frescuras!" Ele concordou. Claro que ele iria concordar. A ideia do dia era a de pararmos o carro assim que vissemos uma paisagem foda na estrada, descer, nos mandarmos pra la, montar a barraca e cada um curtir o local da sua maneira. Argyreia comigo, ganja com o cara de Marrocos e vinho pro pequeno Azeredo. Drogas. Praqueles dois as drogas nao representam muita coisa. Calmante alternativo ou a timidez colocada no canto por algumas horas. Eu vejo algo diferente nelas. Em cada uma vejo uma parte da dança de Shiva e se voce for um suicida em busca do fogo sem duvida ira encontra lo e se queimara enquanto goza. Fora da estrada. Morros, um lago la longe e ninguem por perto. Cercas. Que se fodam as cercas sempre. Ia ser la. Marroquino procura uma garagem inexistente e com manobristas no meio da BR. Azeredo entra em panico. Panico por nao ver uma lanchonete no local que escolhi. Panico pela possibilidade de ser pego invadindo uma area gigantesca sem turistas adolescentes desesperadas ou putas semi humanas de 30$. Querem o bom camping padrao e a segurança padrao pro seu medo padrao com cheiro de enlatado aberto, esquecido e podre num freezer recem comprado. Digo nao e nos separamos. Fico mais leve. Barraca e comida com eles. Argyreia e obsessao comigo. Como oito sementes, pulo os arames e continuo. Corrida. Tenho entre duas e tres horas pra encontrar um local tranquilo antes da trip tomar conta. Nao havia um caminho definido para se chegar ate o lago. Mato alto, lama e trilhas quase apagadas. Ando na beirada escorregadia de uma elevaçao e sigo o instinto miope. A vegetaçao machuca e abaixo minha sensibilidade pra nao desistir. Galho de arvore caido e por alguns segundos voltar parece ser a melhor escolha. Foda se a melhor escolha. Eu tinha que avançar. Quase caio, seguro em raizes expostas e vejo la embaixo um bezerro em inicio de decomposiçao. Que os indianos chorem por ele. Abro espaços e ganho confiança mas ainda sou um coelho. O mato encolhe e arvores se debruçam sobre a agua. Olho pra tras e sei que quando o LSA bater sera impossivel refazer meus passos. Foda se. Trip. O lago se estendia por morros e era no topo dum desses morros que eu iria ver a reconstruçao do mundo. Tudo ja estava mais brilhante e minha coordenaçao motora perdia força. Procuro o melhor ponto por onde subir e nao paro. Me concentro pra nao cruzar as pernas e rolar de volta. Engulo a saliva que bem podia ser meu coraçao tentando escapar gritando da jaula. O terreno se aplana. Estou onde queria e nao importa se aquela terra em que pisava estava em nome de quem quer que fosse, naquele momento ela era so minha. Apoio as maos nos joelhos e respiro aquele lugar, abro a mochila e jogo o edredom que guardei pra barraca sobre a grama. Deito e textos se jogam em abortos espontaneos sem descanço, febril, fabril e compulsivamente. Meu auto controle se esfacelando em graos e abro a minha bermuda num impulso vermelho seguro meu pau, minhas bolas e me masturbo enquanto fecho os olhos e vejo uma onda dourada com cabeça de dragao se esfregando no meu corpo. Gemia olhando pro ceu, pras montanhas ou pro reptil que saia da minha espinha. Num intervalo de quase lucidez tento registrar qualquer coisa em fotos e boto Shine On You Crazy Diamod pra tocar, quebro a logica com sorrisos azuis e faço deles degraus para tentar morder as nuvens. Mergulho. Escurecia, olho pro relogio e calculo que se chegasse na estrada ainda poderia tentar pegar algum onibus voltando pra cidade. Levanto e estou chapado. Muito chapado. Me esforço pra me localizar e corro. A estrada esta no fim do terceiro morro. Corro e o que passa ao meu redor é mancha. É sonho derretido ganhando consistencia com shibari adrenalina. Chego no ultimo e o declinio se torna mais brusco e o chao tem tonalidades escuras. Meu pe afunda ate a metade pelo matagal e quando noto uma perna atravessa completamente a palha e me prendo na beirada do unico ponto firme que encontro. Nao existe agora nada capaz de me sustentar em que pisar e as duas pernas balançam no vacuo daquele pequeno abismo camuflado. O peso da mochila na beirada desacelera a queda e so o que penso é que nao morrerei ali, eu nunca me senti tao certo sobre algo, sobre nao querer algo. Cada buraco na palha multiplicava as sombras e as sombras me queriam, tinham fome, me puxavam e eu podia apenas contar com a minha vontade de nao morrer e me puxar pra cima usando qualquer coisa que eu pudesse agarrar. Lembro de carros passando e da maciez da palha humida sob meu peito. Tinha me erguido mas nao estava salvo. Subo um pouco do morro e os pulmoes ardendo me fazem parar. Desabo no chao e as arvores estao tortas de LSA. Tento me acalmar e olho em volta avaliando a situaçao. Estava escuro de mais pra poder voltar e a quimica estava quase no topo. A unica coisa sensata pra fazer seria resistir ali ate amanhecer e ir embora quando o sol voltasse e e os efeitos do LSA tivessem passado. Noite. Fiz o edredom de cama e a mochila de travesseiro. Os mosquitos so nao atacavam mais porque eu passava repelente de tempos em tempos. Estava exausto e chapado. Começou uma garoa leve e o frio veio de bonus. Eu usava uma camisa fina de manga comprida sobre outra de manga curta e mais uma sobre as pernas. Troquei o boné pela touca e coloquei meias de futebol sobre as normais. A touca que sobrou virou luva improvisada. A garoa sumiu e deitei cobrindo a cabeça com o guarda chuva. Entao veio a chuva séria. Puxei o edredom pra perto e formei uma pequena ilha. O guarda chuva na era dos maiores entao eu tinha que escolher qual lado dessa ilha proteger melhor. Carros passavam la embaixo e eu poderia gritar por ajuda ou algo do tipo. Foda se. Era a minha trip e eu deveria aguenta la ate o fim. Foi horrivel no inicio lutar daquela maneira contra a chuva, mosquitos e o frio mas depois de um tempo me adaptei. Pela frequencia das gotas sacava quando estava para estiar ou quando a agua voltaria forte. Eu estava molhado e tremendo mas a partir do momento que encontrei um certo equilibrio com o local tudo ficou mais facil. Nao me senti ameaçado como antes e prestei atençao no cheiro das coisas. Lembrei de uma garrafinha de repositor energetico guardada no fundo da mochila, mijei em volta da ilha para marcar territorio e por algumas horas fui o lider e unico morador do meu pais.
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